segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Do que fui

Eu sempre fui luz, tentando acender um ponto num buraco negro.
Foi como encontrar um animal selvagem, e me deixar levar pela ingenuidade de achar que eu podia carregar (e cuidar) algo que nunca tivesse a capacidade de me devorar.
Me joguei de olhos fechados, e eu cai.
Cai como se fosse levada por uma enchente, lavada, enxugada, exaurida, subtraída. Eu morri.
Cai como se desse um passo em falso, encontrando a depressão, o vazio, a cova, onde o meu corpo nunca mais deixou de ruir, e eu continuo sentindo o vento do despencar ferindo o rosto, todos os dias, desconfigurando e desbotando o que um dia eu fui, o que eu deixei de ser.
O que se escondeu, com medo de um novo ataque.
O que desapareceu, no escuro.
 
       

3 comentários:

Etienne. disse...

Seis anos e esse grito ainda ecoa pelas paredes dentro de mim, escondendo na garganta um sentimento que nunca flui, que nunca se torna voz.
Hoje nada pode contornar o que fui, e o que resta é uma imensidão de abismos em que me jogo a cada dia.
A vasta lembrança do meu desencontro com a felicidade me obriga a viver papéis mentirosos enquanto há somente solidão.
Quando penso no que você era, sinto vergonha do que fui.
Desencorajando-me de qualquer ato consciente de me fazer entender escondo-me no mesmo escuro, onde podemos ficar, pelo menos enquanto
escrevo, lado a lado novamente.

Eti disse...

Damos idade ao tempo... (2)

Eti disse...

Quantos anos? Nem conto mais.
você está nos meus pensamentos, quando procuro paz. Vejo você, seus dedos nas cordas do violão, e uma voz que me desequilibra.

Sempre estarei aqui Mari, meu bem, talvez encontraremos a poesia novamente.